A virtude e o vício, amigos. Nada mais nobre a se lutar do que pela virtude e contra o vício. Bem, talvez salvar o mundo seja mais relevante. Mas se há uma nobre missão a ser desempenhada, há uma fellowship – ou, para ser mais contemporâneo, um comitê – a assumi-la. E se houve momentos não muito distantes em que heróis salvaram, com notáveis raras exceções®, o mundo, há aqueles que lutam para trazer ordem e perfeição em meio a esta crise. Veja-se o esforço dos alemães e do Banco que zela pela estabilidade do euro. (Não, não usemos cá o termo Banco Central. Este se aplica a instituições com ambigüidades, que visam adicionalmente coisas como manter o nível de emprego e os juros em taxas razoáveis. Lembremo-nos que a dissolução moral começa no bunga bunga e termina na volatilidade conforme as circunstâncias.)
Pois este conjunto de instituições – UE, BCE, FMI – que conseguiu depor o viciado em sexo talhado em Milão que há anos constrangia as pessoas de bem e a Economist como ocupante do governo da Itália, e obter a renúncia de um oligarca de “esquerda” encastelado na Grécia, pondo em ambos os postos flexians com o menor compromisso possível com as perversões corruptas do mundo político local; que conseguiram reendireitar os parlamentos ibéricos, de forma que num corte inglês venham a adquirir as virtudes d’austeridade. Que nome, pois, atribuir a tal conjunto de pessoas para quem cut não se aplica aos detalhes, mas pleno verbo à prática de cortar a própria carne dos orçamentos públicos e das obrigações assumidas de longa data para com os cidadãos, que nome que não Comitê pela propagação da virtude e prevenção do vício?
Há uma história das meninas na escola saudita, de uma década atrás. Os países da Europa são hoje as meninas na escola saudita. Uma série de ficções de ordem moral os fará arder em nome da virtude, zarzuelas de Bayreuth ao fundo diria José. Não vou entrar aqui na discussão técnica dos problemas e das soluções: seria redundante com o muito que se discute no momento, tanta coisa que nem sei por onde começar e fazer justiça a todos. E é inútil. Tal como vejo, mantida a atual institucionalidade européia, não há salvação.
É chegado o momento da Europa derrubar sua República Velha. É chegado o momento de se romper a estrutura federativa tênue, feita para beneficiar o principal Estado, seja em termos populacionais, seja em termos de poderio econômico e exportações, e investir numa estrutura unificada em que as soluções atendam à maioria e não ao maior. É chegada a hora de se derrubar do pedestal São Paulo… perdão, a Alemanha, e se fazer a União vir antes dos Estados.